Wallet Digital Europeu: lições da Itália e perspectivas para o futuro

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Product Strategy Director

A identidade digital se confirma como um dos pilares fundamentais para o futuro do mercado único europeu, com o wallet digital europeu no centro do debate. Adotar abordagens colaborativas entre governos e atores privados, garantindo interoperabilidade, segurança e oportunidades de mercado para os operadores continentais, é a chave para o sucesso dessa iniciativa.

A criação de um ecossistema digital inclusivo e confiável exige padrões comuns, investimentos tecnológicos e um quadro regulatório claro que incentive a confiança de cidadãos e empresas. Somente com uma sinergia entre inovação tecnológica e governança compartilhada será possível realizar uma transformação digital que fortaleça a competitividade europeia e a autonomia estratégica do continente.

Diversidade dos modelos de wallet na Europa

Os modelos de wallet digital desenvolvidos pelos governos europeus apresentam diferenças significativas, com abordagens distintas tanto na colaboração com o setor privado quanto na criação de oportunidades de mercado para operadores europeus. Em um contexto geopolítico em constante evolução, torna-se crucial evitar fragmentações e excesso de regulamentação, como destacado nos relatórios Draghi (competitividade) e Letta (mercado único da UE). O futuro da União depende da capacidade de criar realidades industriais sólidas e integradas.

O wallet europeu: uma visão em construção

A arquitetura do wallet europeu é baseada em três pilares fundamentais:

  • Identidade digital: para garantir identificações e autenticações seguras para indivíduos e empresas.
  • Compartilhamento de dados: para facilitar a troca segura de informações e atributos verificados entre mercados e países.
  • Pagamentos digitais: para apoiar transações simples e seguras, com foco no Euro Digital.

Essa visão, que não se limita apenas à identidade, mas inclui atributos e pagamentos, representa um avanço importante rumo a uma maior interoperabilidade e segurança no mercado digital europeu.

Identidades digitais: um panorama diversificado

O panorama europeu das identidades digitais ainda é fortemente fragmentado, tanto em termos de tipos de usuários quanto de usos. Enquanto França e Itália se destacam como líderes, Alemanha e Espanha ainda não figuram entre os dez primeiros em nível de adoção.

Em nível global, existem atualmente 149 wallets ativos na Europa e no resto do mundo (31 governamentais, 4 privados em âmbito público e 114 privados), destacando a importância das identidades digitais e dos serviços de confiança como pilares da vida moderna e dos direitos nas sociedades contemporâneas.

Fonte: Politecnico di Milano / Dipartimento di ingegneria gestionale

A Itália e o estado atual da identidade digital

Na Itália, as projeções sobre a adoção da CIEid, considerada a verdadeira identidade digital vinculada ao Cartão de Identidade Eletrônico, indicam um atraso de cerca de cinco anos em relação às metas, caso a taxa de crescimento permaneça constante. O SPID, por outro lado, confirma-se como o elemento central da identidade digital italiana, representando um dos casos de maior sucesso na Europa em número de utilizações.

No entanto, o SPID opera predominantemente com um nível substancial de confiabilidade (LoA Substantial) e é gerido por operadores privados. Desde 2017, estes facilitaram a ampla adoção do SPID, investindo significativamente em distribuição, suporte e melhorias contínuas.

Os dados mostram que o SPID é preferido por 91% dos usuários para autenticações, em comparação com a CIE, apesar de esta última oferecer um nível elevado de confiabilidade (LoA High). Contudo, o crescimento da CIE é mais lento, com um atraso estimado de 4 a 5 anos, levantando dúvidas sobre o cumprimento das metas e prazos regulatórios. Esse atraso é agravado pelos requisitos do regulamento eIDAS 2, que exige um nível elevado de confiabilidade para muitos serviços de confiança — um desafio adicional para o país.

Fonte: Politecnico di Milano / Dipartimento di ingegneria gestionale

O Decreto-Lei de 2 de março de 2024, nº 19, abre novas oportunidades para a Itália ao permitir a integração de competências públicas e privadas no desenvolvimento do IT-wallet nacional. Esse instrumento representa uma evolução estratégica para melhorar a experiência do usuário e consolidar a posição italiana no cenário europeu.

Perspectivas para o futuro da identidade digital europeia

A experiência da Itália oferece uma lição importante: os tempos de adoção dos esquemas de identidade digital variam significativamente e dependem principalmente da conveniência percebida pelos usuários finais — tanto em termos de simplicidade quanto de benefícios concretos — além dos incentivos para os diferentes atores do ecossistema. Esse é um dos principais obstáculos para o sucesso do wallet digital europeu.

Para superar esse desafio, é fundamental definir claramente os incentivos para cada participante e promover um efeito multiplicador capaz de estimular a adoção voluntária por usuários, fornecedores de atributos, operadores de serviços de confiança e de pagamento, e empresas que possam se beneficiar do sistema.

O futuro do wallet digital europeu dependerá, portanto, da capacidade de construir um ecossistema colaborativo em que todos os atores estejam motivados a contribuir e no qual os usuários finais percebam vantagens reais e imediatas.

Fonte do artigo: Agenda Digitale

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